terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Levantamento mostra que 370 mil pessoas usam crack no Brasil

27/01/2015

O último levantamento feito pelo Governo Federal sobre o crack no Brasil mostrou que 370 mil pessoas usam a droga regularmente. A mesma pesquisa revelou que um em cada nove usuários rouba para sustentar o vício. O repórter Manoel Soares conversou com dependentes nas ruas de Porto Alegre e muitos admitiram: o dinheiro para comprar o crack vem, quase sempre, de crimes.

Manoel - Qual foi a pior coisa que você já teve que fazer para fumar uma pedra?
Usuária - Roubar dos meus filhos. Roupas, calçados dos meus filhos, videogame. Roubar deles.

O relato é de uma mãe que perdeu o contato com os três filhos. Mas nem a saudade, nem três internações foram suficientes para ela conseguir deixar o vício.
Manoel - Existe uma relação entre esses crimes que estão acontecendo, de assaltos, de violência, com a realidade do crack?
Usuária - Sim, eu creio que sim, porque muita gente rouba, mata. Eles "tão" matando por R$ 5.
Manoel - Eles... Você entende que você "tá" nesse grupo?
Usuária - Sim, com certeza, entendeu.

Outro usuário também admite que sustenta o vício praticando crimes.
Manoel - você já se viu na situação de cometer algum crime assalto pra poder sustentar esse vício?
Usuário - é assim que eu sustento o meu vício. É assim, não tem outro jeito.

O psiquiatra Luiz Carlos Illafont Coronel explica porque pessoas que nunca se envolveram em crimes começam a roubar, agredir e até mesmo matar para conseguir o crack.
“Produz mudanças no cérebro que a pessoa precisa dela. Ele termina de usar e está em busca. Seja pra ter a mesma satisfação, o mesmo prazer, seja pra aliviar do sofrimento de não ter. Ela se torna capaz de cometer crimes, delitos, em função da necessidade da droga”, fala o médico psiquiatra Luiz Carlos Illafont Coronel.
As pessoas quando se deparam com usuários de droga que cometem crimes nas ruas anseiam que eles sejam presos. Boa parte deles, no Rio Grande do Sul, termina no presídio central de Porto Alegre, que é o maior da América Latina.
“O aumento da população carcerária está intimamente ligado ao aumento da oferta de crack e aos problemas relacionados ao crack lá fora. Hoje nós temos no presídio central, dos 3.754 presos, 2.043 presos por tráfico de drogas. Isso representa em torno de 55% dos presos hoje por tráfico de drogas”, conta o diretor do presídio central, Dagoberto Albuquerque da Costa.
A estimativa da Polícia Militar gaúcha é ainda maior. “Nós podemos estimar aí 70% dos crimes praticados tem na raiz deles o tráfico de drogas e o consumo de drogas”, diz o tenente-coronel da Polícia Militar, Haroldo Medina.
Quem vive na rua praticando crimes para comprar a droga, diz que se arrepende, mas nem assim consegue largar o crack.
Manoel - Vale a pena?
Usuária - Não, não vale a pena. Não vale, mas depois que tu entra nesse mudo, é muito difícil tu sair.

O governo do Rio Grande do Sul diz que no ano passado investiu R$ 54,5 milhões em saúde mental, incluindo aí o tratamento de usuários de drogas e que possui 186 centros de atenção psicossocial. O novo governo ainda não tem uma estimativa para este ano.

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