22/05/2017
O presidente
Michel Temer disse que seria "admissão de culpa" renunciar ao
mandato. "Se quiserem, me derrubem", afirmou o pemedebista em
entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo" publicada nesta segunda-feira
(22).
Alvo de um
inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de suspeita de
corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa, Temer enfrenta
a maior crise política de seu mandato. Neste fim de semana, a Ordem dos
Advogados do Brasil decidiu apresentar pedido de impeachment ao Congresso, onde
a oposição já lidera um movimento pela saída do presidente. Além disso,
informou o colunista do G1 Gerson
Camarotti, os articuladores políticos do governo foram avisados que parte da
base aliada quer a renúncia do pemedebista.
Na entrevista à
"Folha", Temer afirmou que não está politicamente perdido. “Eu vou
revelar força política precisamente ao longo dessas próximas semanas com a
votação de matérias importantes. Tenho absoluta convicção de que consigo. É que
criou-se um clima que vai ser um desastre, de que o Temer está perdido. Eu não
estou perdido”.
Temer afirmou
que não sabia que Joesley Batista, que o gravou de forma escondida, era
investigado, embora o dono da JBS seja alvo de três operações.
Sobre o
ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, flagrado correndo com uma mala de dinheiro,
Temer disse que mantinha com ele apenas “relação institucional” e que a atitude
de Loures não foi “aprovável”.
O presidente
afirmou que a regra que ele próprio estabeleceu, de afastar ministro que virar
réu, não vale para ele.
“Não,
porque eu sou chefe do Executivo. Os ministros são agentes do Executivo, de
modo que a linha de corte que eu estabeleci para os ministros não será a linha
de corte para o presidente”.
Para Temer, a
gravação de Joesley foi uma tentativa de induzir uma conversa. “Tenho
demonstrado com relativo sucesso que o que o empresário fez foi induzir uma
conversa. Insistem sempre no ponto que avalizei um pagamento para o ex-deputado
Eduardo Cunha, quando não querem tomar como resposta o que dei a uma frase dele
em que ele dizia: ‘olhe, tenho mantido boa relação com o Cunha’. Eu disse
‘mantenha isso’”, disse referindo-se a parte da ‘boa relação’.
Temer repetiu
que o empresário é falastrão. “Ele falou que tinha [comprado] dois juízes e um
procurador. Conheço o Joesley de antes desse episódio. Sei que ele é um
falastrão”.
Para Temer,
ouvir um empresário narrando crimes dentro de sua casa não é prevaricação.
“Muita gente me diz as maiores bobagens que eu não levo em conta. Ele foi
levando a conversa para um ponto, as minhas respostas eram monossilábicas”.
Sobre o
encontro fora da agenda, o presidente explicou ser apenas um hábito e não uma
falha. “Eu marco cinco audiências e recebo 15 pessoas. Às vezes à noite, fora
da agenda. Eu começo recebendo às vezes no café da manhã e vou para casa às
22h, tem alguém que quer conversar comigo. Foi, digamos, um hábito. Não é
ilegal porque não é da minha postura ao longo do tempo”.
'Ingênuo'
Temer afirmou
que poderia ser mais precavido. “Talvez eu tenha de tomar mais cuidado. Bastava
ter um detector de metal para saber se ele tinha alguma coisa ou não, e não me
gravaria. Fui ingênuo ao receber uma pessoa naquele momento.”
Segundo Temer,
Joesley gravou a conversa para pegar alguém "graúdo". “Tudo foi
montado. Ele [Joesley] teve treinamento de 15 dias para gravar, fazer a
delação, como encaminhar a conversa. A primeira coisa, o orientaram ou ele
tomou a deliberação: ‘grave alguém graúdo’. Depois, como foi mencionado o nome
do Rodrigo, certamente disseram: ‘vá atrás do Rodrigo’. E aí o Rodrigo
certamente foi induzido, foi seduzido por ofertas mirabolantes e irreais”.
Para Temer,
Rocha Loures errou, mas o presidente afirmou não se sentir traído. “Não vou
dizer isso, porque ele é um homem, coitado, ele é de boa índole, de muito boa
índole. Eu o conheci como deputado, depois foi para o meu gabinete na
Vice-Presidência, depois me acompanhou na Presidência, mas um homem de muito
boa índole”.
Sobre o fato de
Loures ter sido filmado com R$ 500 mil, Temer disse que "esse gesto não é
aprovável."
'Não vou renunciar'
A respeito seus
últimos pronunciamentos após o início da crise, Temer disse que estava apenas
retrucando “as imprecações de natureza moral gravíssimas”.
“Agora,
mantenho a serenidade, especialmente na medida em que eu disse: eu não vou
renunciar. Se quiserem, me derrubem, porque, se eu renuncio, é uma declaração
de culpa”, afirmou.
Temer afirmou
estranhar o fato de Joesley Batista estar solto. “Chamou a atenção de todos a
tranquilidade com que ele [Joesley] saiu do país, quando muitos estão na
prisão. Ou, quando saem, saem com tornozeleira. Além disso, vocês viram o jogo
que ele fez na Bolsa. Ele não teve uma informação privilegiada, ele produziu
uma informação privilegiada. Ele sabia, empresário sagaz como é, que no momento
em que ele entregasse a gravação, o dólar subiria e as ações de sua empresa
cairiam. Ele comprou US$ 1 bilhão e vendeu as ações antes da queda”.
O presidente
comentou sobre mudança na maneira como os acordos de delação premiada são
conduzidos. “Acho que é preciso muita tranquilidade, serenidade, adequação dos
atos praticados. Não podem se transformar em atos espetaculosos. E não estou
dizendo que a Procuradoria faça isso, ou o Judiciário. Mas é que a naturalidade
com que se leva adiante as delações... Você veja, as delações estão sob sigilo.
O que acontece? No dia seguinte, são públicas. A melhor maneira de fazer com
que eles estejam no dia seguinte em todas as redes de comunicação é colocar uma
tarja na capa dizendo: sigiloso”.
Temer falou
sobre o projeto de abuso de autoridade. “É claro que ninguém é a favor do abuso
de autoridade. Se é preciso aprimorar toda a legislação referente a abuso de
autoridade, eu não saberia dizer. Abusar da autoridade é ultrapassar os limites
legais”.
Temer desviou
do assunto quando perguntado sobre áudios de executivos dizendo que ele pediu
caixa 2 em 2010, 2012 e 2016.
Perdendo apoio
O presidente
falou sobre a perda de apoio depois que o áudio se tornou público. “O PSB eu
não perdi agora, foi antes, em razão da Previdência. No PPS, o Roberto Freire
veio me explicar que tinha dificuldades. Eu agradeci, mas o Raul Jungmann, que
é do PPS, está conosco”.
Ele entende que
o PSDB vai manter a fidelidade ao governo. “Até 31/12 de 2018”, previu.
O presidente
afirmou que a crise não afetará o plano do governo em aprovar reformas. “Eu vou
revelar força política precisamente ao longo dessas próximas semanas com a
votação de matérias importantes. Tenho absoluta convicção de que consigo. É que
criou-se um clima que vai ser um desastre, de que o Temer está perdido. Eu não
estou perdido”. E acrescentou: “todos os partidos vêm dizer que estão comigo. É
natural que, entre os deputados... Com aquele bombardeio, né? Há uma emissora
de televisão que fica o dia inteiro bombardeando”.
Chpa Dilma-Temer
Temer disse que
a crise recente não irá influenciar no julgamento da chapa Dilma-Temer no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode resultar na cassação do mandato do
presidente. “Acho que não. Os ministros se pautam não pelo que acontece na
política, mas pelo que passa na vida jurídica”.
Caso o TSE
decida cassar a chapa, Temer disse usará meios legais para se defender. “Agora,
evidentemente que, se um dia, houver uma decisão transitada e julgada eu sou o
primeiro a obedecer”.
Temer recebeu
com surpresa a decisão de Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de levar um pedido
de impeachment ao Congresso. “Lamento pelos colegas advogados.
Eu já fui muito saudado, recebi homenagens da OAB. Tem uma certa surpresa
minha, porque eles que me deram espada de ouro, aqueles títulos fundamentais da
ordem, agora se comportam dessa maneira. Mas reconheço que é legítimo.”.
Entenda a crise
Na semana
passada, foram divulgadas as informações prestadas pelos empresários Joesley e
Wesley Batista, donos da JBS, ao Ministério Público Federal, no acordo de
delação premiada fechado por eles no âmbito da Operação Lava Jato.
Aos
investigadores, os irmãos Batista entregaram documentos, fotos e vídeos como
prova das informações fornecidas. As delações deles e de outros executivos da
JBS já foram homologadas pelo Supremo Tribunal Federal e
o conteúdo, divulgado na última sexta-feira (19).
SAIBA O QUE OS DELATORES DISSERAM SOBRE TEMER
Com base no que
foi relatado pelos delatores, o ministro do STF Luiz Edson Fachin, relator da
Lava Jato, autorizou a abertura de inquéritopara investigar Temer e outros
políticos, entre os quais o senador Aécio Neves (PSDB-MG), afastado do mandato parlamentar por
determinação do Supremo.
Temer será
investigado pelos crimes de corrupção passiva, obstrução à Justiça e
organização criminosa. O presidente tem negado em pronunciamentos e em notas à
imprensa todas as acusações e já pediu ao Supremo para suspender o inquérito.
g1
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