quarta-feira, 8 de maio de 2013

Dois Papas dividem as atenções no Vaticano

08/05/2013


Da Redação, com agências
 
 
Como se previa, o Vaticano está passando por uma coabitação inédita entre dois Papas: Joseph Ratzinger, Papa Emérito Bento XVI, que renunciou há dois meses, e o Papa Francisco (Jorge Bergoglio), que o sucedeu imantado pelos votos do colégio de cardeais reunido na Capela Sistina, de onde foi expelida a fumaça branca anunciando ao mundo que a Igreja Católica tinha um novo regente. Bento XVI retornou ao Vaticano de helicóptero, procedente de Castelgandolfo, onde estava recluso. Do heliporto, seguiu em automóvel até o Mosteiro Mater Ecclesia, onde foi recebido em grande e fraterna cordialidade pelo Papa Francisco. Juntos, foram à capela do Mosteiro para um momento de oração. Foi a segunda vez que os Pontífices encontraram-se pessoalmente desde a eleição de Francisco. Em 23 de março passado, Francisco foi até Castelgandolfo para encontrar Bento XVI. Em numerosas ocasiões, falaram-se ao telefone.
 
 
Bento XVI voltou ao Vaticano após concluídas as reformas realizadas no Mosteiro, onde passa a residir acompanhado da “família pontifícia”, formada pelo seu secretário particular e atual prefeito da CasaPontifícia, arcebispo Georg Ganswein, as quatro leigas consagradas do Instituto “Memores Domini”, além de um diácno belga. Um quarto foi reservado para seu irmão, Georg, também sacerdote, de 89 anos, que vive na Alemanha. Em 11 de fevereiro, Ratzinger anunciou que passaria a servir à Igreja através de orações. Quase coincidindo com o retorno de Bento XVI ao Vaticano, 35 novos guardas suíços prestaram juramento de servir com fidelidade, lealdade e honradez ao Sumo Pontífice, ou seja, ao Papa Francisco. A cerimônia ocorreu no pátio São Damaso e evocou um antigo rito do julgamento ao saque de Roma, em seis de maio de 1527, quando 147 soldados suíços entraram em prontidão para defender a vida do Papa. São os guardas mais famosos do mundo, e o seu lema é baseado na reserva e discrição.
 
 
Em relação a Bento XVI, de 86 anos, esta é a primeira vez na história da Igreja que dois Papas convivem dentro das muralhas do Vaticano, ambos vestidos de branco e com o título de Santidade. Desde sua eleição, Francisco manifestou em várias oportunidades amizade por seu antecessor com quem falou por telefone e celebrou uma missa em homenagem ao seu aniversário. Especialistas em Vaticano admitem que, de qualquer forma, será uma relação complexa, já que o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio foi o grande rival há oito anos do alemão Joseph Ratzinger no conclave que o escolheu após a morte de João Paulo II (Karol Wojtyla). A partir do seu monastério, ainda dedicado à oração e ao estudo, o idoso Papa Emérito, que reinou durante uma fase muito difícil devido aos escândalos que atingiram o seu pontificado, é um observador privilegiado e singular de tudo o que ocorrer durante o papado do primeiro latino-americano e jesuíta da história.
 
 
Esta convivência levanta questões e inclusive críticas pela presença de dois Papas, ao mesmo tempo, dentro dos muros do Vaticano. Por outro lado, o homem de confiança durante os oito anos de pontificado de Bento XVI, o secretário Ganswein, prefeito da Casa Pontifícia, é a pessoa que dirige o escritório que organiza a agenda papal, fixa as audiências solenes e privadas, prepara as cerimônias pontifícias, exceto a parte estritamente litúrgica, e coordena os preparativos para suas viagens. Embora quase todos os especialistas afirmem que seu papel como vínculo entre os dois Pontífices será provisório, é a primeira vez na história recente da Igreja que o secretário papal deverá servir ao mesmo tempo a dois Papas. O fato de Ganswein conservar o cargo e continuar sendo secretário particular de Bento XVI pode gerar confusão sobre seu papel e influência entre os dois Pontífices, como registram agências internacionais. Nos dois meses que se seguiram à renúncia, porém, o Papa Emérito manteve uma vida discreta e evitou se envolver nos assuntos internos da Cúria. É possível que ambos se encontrem durante seus passeios pelos jardins do Vaticano e inclusive rezem juntos. O Papa Emérito, de qualquer forma, não levará uma vida de recluso e poderá ser consultado por seu sucessor e receber pessoas e amigos, disse o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi. Bento XVI passou os últimos meses na residência de verão papal, 25 km ao sul de Roma, onde permaneceu isolado do mundo, à exceção de algumas poucas fotografias tiradas enquanto passeava junto ao seu secretário e do encontro com o novo Pontífice.  

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