sábado, 25 de janeiro de 2014

Dispensa de pessoal complica obra no aeroporto

25/01/2014


A Infraero reiterou que o Consórcio CPM Novo Fortaleza, responsável pela execução das obras, está descumprindo cláusulas contratuais, o que gerou multas totalizando mais de R$ 1 milhão fotos: Alex Costa/ Para os operários ouvidos pela reportagem, a situação só chegou a esse ponto por falta de administração eficiente e de supervisão dos serviços na obra de ampliação do terminal aeroportuário

A situação em que se encontram as obras do Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza, é pior do que se imagina. O quadro de operários foi reduzido em quase 65%, causando praticamente a paralisação dos serviços. De 850 trabalhadores, só restam cerca de 300. E as demissões não param de acontecer. Nos últimos dois dias, mais de 30 homens foram dispensados. Outros já têm data certa para abandonar o canteiro.

Descumprimento

Segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), o Consórcio CPM Novo Fortaleza, responsável pela execução das obras, está descumprindo cláusulas contratuais, o que poderá render outros desdobramentos. A empresa já aplicou duas multas ao consórcio, totalizando mais de R$ 1 milhão. A Infraero garante que as obras de reforma e ampliação do aeroporto estão ocorrendo normalmente.

Não foi isso que o Jornal observou na manhã de ontem. A reportagem chegou ao canteiro por volta das 8h30, horário em que diversos operários estavam sentados, sem ter o que fazer, aguardando novas demissões.

"O barco está afundando, as obras estão quase abandonadas. Estamos largados, desgostosos com essa situação. A gente quer fazer as coisas, mas não tem frente de serviço", desabafa um dos operários (identidade preservada) que deixará a empresa no início do próximo mês. "Faço parte de um grupo que está aqui só cumprindo aviso, num faz de conta", completa.

Montadores, auxiliares de montagem, carpinteiros e operadores de máquina são dispensados do canteiro frequentemente. Para os operários ouvidos pela reportagem, a situação só chegou a esse ponto por falta de administração eficiente e de supervisão dos serviços. "A empresa contrata os trabalhadores por dois, três meses e dispensa depois, principalmente os terceirizados. Se tivessem mantido a mão de obra, esse problema não teria acontecido. A gente tem experiência em construção civil e sabe como é", declara outro trabalhador (identidade preservada). Ele conta que, recentemente, um grupo de montadores foi demitido porque se recusou a executar um serviço de carpinteiros. "Eles disseram que não iriam se arriscar porque não sabiam fazer a obra. Eles poderiam sofrer algum acidente, né? Por causa disso, o encarregado pegou as matrículas de cada um e demitiu", lembra.

Falta de material

Ainda de acordo com os operários, além das demissões, outro problema grave no canteiro é a falta de óleo diesel para a operação das máquinas. Eles informam que equipamentos necessários ao andamento das obras, já foram devolvidos às locadoras.

Ministro do TCU, Valmir Campelo, disse que a alternativa encontrada pela Infraero para a Copa não é satisfatória, mas é o que a empresa tem a oferecer no momento

Projeto

O projeto para o Aeroporto Internacional Pinto Martins prevê a ampliação do terminal, que passará dos atuais 38,5 mil m² para 90,4 mil m². O pátio chegará a 57,7 mil m², com mais nove pontes de embarque, totalizando 16. O local também terá mais seis posições de estacionamento remoto de aviões. O investimento é de R$ 336,6 milhões. O consórcio CPM Novo Fortaleza é formado pelas empresas Consbem Construções, Paulo Octávio Investimentos Imobiliários e MPE Montagens e Projetos Especiais. A reportagem entrou em contato Consbem Construções, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

Área provisória amplia embarque

Além da construção de um terminal remoto de embarque no valor de R$ 3,5 milhões para amenizar os transtornos no Aeroporto Internacional Pinto Martins durante a Copa do Mundo, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) utilizará 1.375 m² de área administrativa para ampliar a sala de embarque. Segundo a empresa, a ação está em andamento desde dezembro de 2013. A nova sala de embarque terá 1.375m², três portões de embarque e dois canais de inspeção de passageiros.

Parte da área administrativa será utilizada para ampliar a sala de embarque foto: Viviane Pinheiro

Fiscalização do TCU

Para o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Valmir Campelo, a alternativa encontrada pela Infraero para suprir a demanda de passageiros durante o evento esportivo não é satisfatória, “mas é o que a empresa tem a oferecer no momento”. Ele, que é o relator responsável por processos da Copa de 2014, esteve ontem no aeroporto para fiscalizar as obras, ontem. 

Campelo reiterou que técnicos do TCU estão apurando todas as informações referentes às obras do aeroporto. 
Em breve, representantes do Consórcio CPM Novo Fortaleza, responsável pela execução dos serviços, serão chamados para prestar explicações sobre o caso. 

Ampla defesa

“Queremos ouvi-los. O consórcio precisa se manifestar dentro da ampla defesa. O TCU é responsável por fiscalizar a aplicação do dinheiro público. Caso seja identificada alguma irregularidade, as devidas providencias serão tomadas contra os responsáveis”, destaca o ministro.

Ainda de acordo com Campelo, dos R$ 336,6 milhões previstos para aplicação na obra, até então um montante de R$ 56 milhões foram utilizados. (RS)

RAONE SARAIVAREPÓRTER 

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