O Banco Central Europeu (BCE) decidiu nesta segunda-feira (6) manter a linha de liquidez de emergência (ELA, na sigla em inglês) aos bancos gregos. Em comunicado, o BCE afirmou que a provisão será mantida "nos níveis do dia 26 de junho", mas que a ajuda só pode ser fornecida com garantias suficientes.
A ELA são recursos disponibilizados para bancos que estejam com problemas de falta de dinheiro, como é o caso dos bancos gregos, através do Banco da Grécia, para que eles se mantenham funcionando. No nível de 26 de junho, o crédito autorizado era de € 89 bilhões. Acredita-se que os bancos gregos tenham pouco menos de € 50 bilhões nesses recursos.
O BC europeu também afirmou que vai "ajustar" o valor das garantias – isso significa que elas não são aceitas por seu valor de face e que sofrerão "descontos", para se adequar ao risco econômico da Grécia. Isso deve reduzir a capacidade dos bancos de receber esses recursos e aumentar o risco de quebra das instituições.
"O Conselho (do BCE) está monitorando de perto a situação dos mercados financeiros e as potenciais implicações para a política monetária e para o equilíbrio de riscos à estabilidade de preços na zona do euro. O Conselho está determinado a usar todos os instrumentos disponíveis", diz o comunicado.
Bancos fechados
O governo da Grécia vai manter os bancos do país fechados até quarta-feira (8), segundo a presidente da Associação Helênica dos Bancos, Louka Katseli. Desde a semana passada, apenas algumas agências estão funcionando, e só para pagamento de aposentadorias. Nos caixas eletrônicos, os saques estão limitados a € 60 diários.
A medida foi tomada porque os bancos gregos estão ficando sem recursos. O primeiro-ministroAlexis Tsipras, no entanto, havia prometido a reabertura dos bancos para esta terça-feira.
Sem recursos
No domingo (5), os gregos rejeitaram, em referendo, as condições impostas pelos credores europeus para extensão da ajuda ao país, que incluíam aumento de impostos e cortes nas aposentadorias.
O governo grego espera que esse resultado dê mais poder de barganha ao país na negociação com os credores. Mas a Grécia agora corre contra o tempo para conseguir uma nova ajuda antes que os bancos fiquem sem dinheiro, e antes do vencimento de uma parcela de € 3,5 bilhões que a Grécia deve pagar ao Banco Central Europeu até dia 20 julho.
Negociações
Nesta segunda, Tsipras concordou, em uma conversa por telefone com a chanceler alemãAngela Merkel, que Atenas apresente nesta terça, na cúpula europeia, novas propostas do governo grego visando a um acordo com os credores europeus e o Fundo Monetário Internacional (FMI), afirma um comunicado oficial da Grécia.
O Eurogrupo (reunião informal dos ministros das Finanças da zona do euro), que começará às 11h (8h em Brasília) desta terça, "debaterá a situação após o referendo na Grécia, realizado neste domingo. Os ministros esperam novas propostas das autoridades gregas", disse o comunicado.
Em nota, a diretora do FMI, Christine Lagarde, afirmou que o fundo "está monitorando de perto a situação e está pronta para ajudar a Grécia se solicitado".
O presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, disse no domingo, após a divulgação do resultado da consulta grega, que esperava "novas iniciativas" do governo liderado por Alexis Tsipras para voltar à mesa de negociações.
Nesta segunda, Dijsselbloem afirmou que a meta continua a ser a permanência da Grécia como membro da zona do euro, mas reconheceu que estão por ver se esse objetivo ainda pode ser alcançado, após a vitória do "não" no referendo grego.
"Os gregos querem ficar na zona do euro. Essa é também minha meta. Mas se conseguiremos, vamos ver", disse à agência ANP o presidente do Eurogrupo em sua chegada nesta segunda à reunião em Haia do conselho de ministros da Holanda.
O também ministro de Finanças da Holanda destacou que a rejeição de 61,3% dos eleitores gregos às últimas propostas dos credores não facilita a situação e torna mais difícil encontrar uma solução.
Dijsselbloem insistiu que são necessárias "medidas duras" para alcançar uma situação econômica aceitável na Grécia, ao mesmo tempo em que afirmou que "não existe uma solução fácil".
Reunião de ministros
O Eurogrupo insistiu nesta segunda que a consulta foi convocada "depois de o governo grego se retirar unilateralmente das negociações em andamento com as instituições", a troika, formada por FMI, Comissão Europeia (CE) e Banco Central Europeu (BCE).
Estas negociações discutiam o "plano de reformas amplo" que a Grécia teria que pactuar com seus sócios e aplicar como parte das condições associadas ao seu segundo resgate bancário, assinado em 20 de fevereiro, quando foram concedidos quatro meses de prorrogação do resgate expirado em 30 de junho do ano passado.
O Eurogrupo será realizado cinco horas antes da cúpula de chefes de Estado e de governo da zona do euro, convocada também neste domingo após o fechamento das urnas e dos primeiros resultados que mostraram a vitória do "não" no referendo, que ganhou com 61,3% dos votos.
Nesta segunda-feira, os responsáveis do Tesouro e os vice-ministros de Economia e Finanças da zona do euro terão uma conferência telefônica do conhecido como Euro Working Group, o grupo de trabalho que prepara as discussões dos Eurogrupo.
Além disso, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, convocou outra teleconferência com Dijsselbloem, com os presidentes da CE, Jean-Claude Juncker, e do BCE, Mario Draghi, e com o diretor-gerente do Mecanismo Europeu de Estabilidade, o fundo de resgate permanente, Klaus Regling.
Na tarde desta segunda-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, terão uma reunião em Paris às 16h30 (13h30 em Brasília).
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