07/08/2019
O site
El País, em parceria com The Intercept, publicou nesta terça-feira (6) novas
mensagens atribuídas a procuradores da Lava Jato e vazadas do aplicativo
Telegram. Segundo o site, as mensagens mostrariam que os procuradores da
força-tarefa fizeram um esforço de coleta de dados sobre o ministro Gilmar
Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o que é proibido.
A
reportagem diz que, liderados por Deltan Dallagnol, coordenador da
força-tarefa, procuradores e assistentes teriam planejado acionar
investigadores na Suíça para tentar reunir munição contra o ministro Gilmar
Mendes, ainda que buscar apurar fatos ligados a um integrante de Corte superior
extrapolasse suas competências constitucionais.
Os
procuradores teriam se mostrado animados em 19 de fevereiro deste ano. “Gente
essa história do Gilmar hoje!! (...) Justo hoje!!! (...) que Paulo Preto foi
preso”, teria dito Dallagnol no chat que reúne procuradores da força-tarefa.
Segundo
o El País Brasil, a conversa então teria se desenrolado e revelado a ideia de
rastrear um possível elo entre Gilmar Mendes e Paulo Vieira de Souza, o Paulo
Preto, preso em Curitiba e apontado como operador financeiro do PSDB. O site
afirma que a aposta era que Gilmar Mendes, que já havia concedido dois habeas corpus em favor de Paulo Vieira
de Souza, aparecesse como beneficiário de contas e cartões que o
operador mantinha na Suíça, um material que já estava sob escrutínio dos
investigadores do país europeu.
No que
seria uma referência aos cartões de Paulo Vieira de Souza, o procurador
Roberson Pozzobon teria dito: “Vai que tem um para o Gilmar… hehehe”. O site
diz que a possibilidade de apurar dados a respeito de um ministro do Supremo é
tratada com ironia. O procurador Athayde Ribeiro da Costa teria respondido:
“Você estaria investigando ministro do Supremo, Robinho. Não pode”. Pozzobon
então teria escrito: “Não que estejamos procurando. Mas vaaaai que…”.
Na
sequência, Dallagnol teria reforçado que o pedido à Suíça deveria ter enfoque
mais específico. “Acho que vale falar com os suíços sobre a estratégia e
eventualmente aditar pra pedir esse cartão em específico e outros vinculados à
mesma conta. Talvez vejam lá como algo separado da conta e por isso não veio.
Afinal diz respeito a outra pessoa.”
A
força-tarefa da Lava Jato em São Paulo afirmou ao site que “jamais recebeu
qualquer informação sobre suposto envolvimento de Gilmar Mendes com as contas
no exterior de Paulo Vieira de Souza. E também que “se recebesse uma informação
a respeito de ministro do STF, essa informação seria encaminhada à
Procuradoria-Geral da República”.
Em
outro trecho, Dallagnol teria dito: “Vale ver se ligações de PP pra telefones
do STF”. O site diz que “PP” é uma referência a "Paulo Preto".
A
reportagem lembra que o artigo 102 da Constituição determina que os ministros
do Supremo só podem ser investigados com autorização de seus pares, a não ser
que apareçam em uma investigação já em curso, a chamada investigação cruzada.
Caso seja este o caso, a competência é necessariamente da Procuradoria-Geral da
República (PGR).
Ao El
País, a força-tarefa da Lava Jato afirmou que “não surgiu nas investigações
nenhum indício de que cartões da conta de Paulo Vieira de Souza tenham sido
emitidos em favor de qualquer autoridade sujeita a foro por prerrogativa de
função”. E que “qualquer ilação nesse sentido, por parte de quem for, seria
mera especulação”.
A nota
ao site diz ainda que em todo os casos em que há a identificação de pagamentos
de vantagens indevidas e lavagem de ativos no exterior, o Ministério Público
busca fazer o rastreamento do destino de todos os ativos ilícitos, para
identificar os destinatários desconhecidos”, e que, sempre que surgem indícios
do envolvimento em crimes de pessoas com foro privilegiado, a força-tarefa
encaminha as informações à Procuradoria-Geral da República e ao STF.
Segundo
o site, em 5 de maio de 2017, Dallagnol teria falado em pleitear o impedimento
caso o ministro concedesse habeas corpus a Antonio Palocci, condenado na Lava
Jato. Dallagnol teria escrito: “Caros, estive pensando e se perdermos o HC do
Palocci creio que temos que representar/pedir impeachment do GM”. O site afirma
que, para embasar o pedido, Dallagnol teria elencado declarações públicas do
ministro contra a força-tarefa, "incoerência de votos",
"favorecimentos" e até seus antigos confrontos com o ex-ministro do
STF Joaquim Barbosa, "só para dar força moral".
A
procuradora Laura Tessler teria respondido: “Calma, Deltan”. E o procurador
Paulo Roberto Galvão teria escrito: “Eu não acho que nós devemos fazer o pedido
de impeachment. Outros fazerem é bom”.
O
ministro Gilmar Mendes comentou as mensagens nesta terça-feira antes da sessão
do Supremo: “Eu tenho dito a vocês que essa é a maior crise que já se produziu
no aparato judicial do Brasil desde a redemocratização. Isto atingiu tanto a
PGR quanto a Justiça Federal. As duas instituições estão sendo muito
comprometidas nesse episódio. Seja no jogo de combinação, pelas decisões
malfeitas, má elaboração de peças, por essas atitudes criminosas. Então, essas
instituições estão saindo muito mal".
Nenhum comentário:
Postar um comentário