Nonato Guedes

Um levantamento feito pelo blog do jornalista Suetoni Souto Maior, aponta para uma peculiaridade na equipe do governador João Azevêdo (PSB): apenas um secretário está confirmado na disputa eleitoral deste ano, faltando pouco mais de 20 dias para o fim do prazo de desincompatibilização de executivos-candidatos a postos eletivos. O secretário de Articulação Política, Murilo Galdino, irmão do presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino (Republicanos), deixará a Pasta para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. Por sua vez, o deputado Adriano Galdino mantém-se na expectativa de vir a ser indicado candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Azevêdo, com cuja governabilidade tem contribuído no comando da Casa de Epitácio Pessoa.

A constatação levou Suetoni a afirmar que os secretários estaduais “fogem” da disputa por mandatos, ao contrário de anos anteriores. Trata-se, sem dúvida, de um fenômeno no histórico da administração pública da Paraíba, onde secretários de governos acabam se credenciando a desafios políticos ou se aventurando em disputas, confiantes na repercussão do trabalho que desenvolvem ou das ações que empreendem, principalmente nas chamadas pastas estratégicas. Afirma-se que o fenômeno tem a ver com o caráter técnico da equipe de João Azevêdo. Não há propriamente uma esterilidade política dentro do governo nem o governador, em qualquer momento, incentiva tal situação. O problema é que, por um fator ou outro, nomes de destaque na equipe não se capacitaram à disputa nem lutaram para obter cacife político-eleitoral.

A ex-secretária Ana Cláudia Vital do Rêgo, mulher do senador Veneziano Vital do Rêgo, que deverá ser candidata à Assembleia Legislativa, deixou o governo muito antes da aproximação do prazo de desincompatibilização, acompanhando o marido, que rompeu politicamente com João Azevêdo e, em clima de reviravolta, lançou-se pré-candidato ao Palácio da Redenção pelo MDB, em aliança com o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) para o Senado. Ana Cláudia disputou as eleições para a prefeitura de Campina Grande em 2020 mas não logrou êxito, já que a parada foi decidida em primeiro turno, favorecendo o candidato Bruno Cunha Lima, do PSD, com apoio do PSDB e PP. Ana Cláudia chegou a ser cogitada como opção para a vice de João Azevêdo, mas o governador nunca sinalizou nessa direção. De resto, houve estremecimento de relações, tanto da parte de Veneziano como da sua mulher, com o governo, culminando com o rompimento.

Nome em evidência no noticiário e junto à opinião pública, o secretário de Saúde, Geraldo Medeiros, que tem se destacado no enfrentamento à pandemia de covid-19 no território paraibano, tendo bom trãnsito na classe política e interlocução positiva com segmentos da sociedade, tem sido lembrado para a disputa do mandato federal mas não tornou pública qualquer decisão, como tem se falado aleatoriamente no coronel Euller Chaves, comandante da Polícia Militar da Paraíba e no secretário de Desenvolvimento Humano, Tibério Limeira, que, inclusive, foi vereador em João Pessoa. Vale repetir que são especulações, sem definição concreta por parte dos citados. “Em poucos dias, veremos a menor reforma administrativa dos últimos tempos”, ressalta Suetoni, comparando com períodos em que houve verdadeira revoada de secretários de Estado para a disputa política-partidária.

O cenário nos escalões de poder na Paraíba contrasta com o cenário no poder federal em Brasília, onde ministros de destaque e assessores palacianos vão enfrentar as urnas. Um deles, conforme já anunciado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, é o paraibano Tércio Arnaud Tomaz, assessor especial da presidência da República, que pretende figurar como primeiro suplente de Bruno Roberto, pré-candidato ao Senado pelo nosso Estado nas hostes do PL, o Partido Liberal. Pelo menos oito ministros do presidente Jair Bolsonaro concorrerão a governos estaduais ou mandatos no Congresso, como Damares Alves, dos Direitos Humanos, Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Gilson Machado (Turismo), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência), Tereza Cristina (Agricultura), João Roma (Cidadania) e Flávia Arruda (Secretária de Governo.

O grande ausente na lista dos que integram o governo federal é o paraibano Marcelo Queiroga, titular da Pasta da Saúde, que chegou a ser lembrado para disputar o governo do Estado, concorrer ao Senado ou a uma vaga de deputado federal. Em termos concretos, porém, Queiroga nunca se articulou diretamente com líderes políticos paraibanos para viabilizar um projeto de candidatura, embora fosse mencionado pelo próprio presidente como alternativa e até mesmo estimulado a tanto. O ministro tem demonstrado, na verdade, apego maior ao cargo que ora exerce e no qual espera continuar até o fim do governo de Bolsonaro. Em compensação, lançará um filho, Antonio Cristóvão (Queiroguinha) para mandato de deputado federal.