21.09.2023
Nova York — O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, precisa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva assim como líder brasileiro precisa do norte-americano. Com essa avaliação — tanto do Palácio do Planalto quanto da Casa Branca —, o encontro entre os chefes de Estado das duas maiores democracias do mundo ocidental foi considerado o mais importante desta viagem do petista aos EUA — uma agenda intensa que terminou na noite desta quarta-feira, quando ele retornou a Brasília.
Além da iniciativa global pelo trabalho digno, exposta no documento assinado pelos dois países em evento aberto, Lula e Biden discutiram, na parte reservada, as perspectivas de negócios relacionados à transição energética; a reforma de organismos multilaterais; as eleições na Venezuela e no Haiti, que vive um colapso social, além da guerra na Ucrânia.
Biden era só sorrisos e satisfação ao ouvir Lula dizer que os dois países vivem um momento excepcional: "Esse encontro aqui, para mim, é mais do que uma bilateral. É o renascer de um novo tempo na relação entre Estados Unidos e Brasil. Uma relação de iguais, uma relação soberana e de interesses comuns em benefício do povo trabalhador do seu país e do meu país", disse Lula.
A reunião ocorreu no Hotel Intercontinental, onde Biden está hospedado, e durou mais de uma hora. Foi precedida por um encontro preparatório entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a secretária do Tesouro, Janet Yellen. Eles acertaram os passos da agenda econômica entre os dois países.
A aproximação dos governos é vista também com um contraponto à parceria das gestões anteriores dos dois países, Donald Trump e Jair Bolsonaro. Lula, por exemplo, começou sua fala numa referência velada aos dois antecessores: "Quando olhamos a geopolítica do mundo, percebemos que as oportunidades estão cada vez se fechando, e a democracia cada vez corre mais perigo, porque a negação da política tem feito com que setores extremistas tentem ocupar o espaço em função da negação na política do mundo inteiro. Isso já aconteceu no Brasil, está acontecendo na Argentina e tem acontecido em vários outros países", disse.
Agora, em termos de relação Brasil-Estados Unidos, em vez de armamentos e perspectivas de exploração de áreas indígenas, a conversa girou em torno de como evitar a precarização das relações trabalhistas, a necessidade de promover a transição energética, a preservação ambiental, o combate às desigualdades e reformas na governança de organismos multilaterais. "Temos a obrigação de liderar a próxima geração para um mundo melhor. A intenção de Brasil e EUA é de fazer isso juntos", afirmou.
Ao contrário das tradicionais reuniões bilaterais, em que a imprensa entra apenas para a foto protocolar, desta vez, foi possível acompanhar 13 minutos da conversa dos presidentes.
Sem diploma
Biden disse, inclusive, que seu staff deveria estar ansioso, mas ele iria falar. Mencionou que seu pai não tinha diploma, mas dizia que "um emprego era muito mais que um contracheque". "É dignidade, autorrespeito, olhar nos olhos de seus filhos e dizer, 'querido, vai ficar tudo bem'."
Lula, por sua vez, lembrou que também não tinha diploma e que passou 27 anos numa fábrica. Afirmou que, pela primeira vez, vê um presidente dos EUA preocupado com trabalhadores. "Tenho acompanhado discursos seus. Nunca tinha visto um presidente americano falar tanto e tão bem dos trabalhadores como o senhor falou", elogiou. "E isso foi referendado para mim pelas centrais sindicais americanas. Os companheiros sindicalistas, perguntados por mim sobre o seu discurso, afirmaram que era o presidente que mais defendia os interesses dos trabalhadores."
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