10.10.2024
Com ventos de 193km/h na parede de seu olho — como é chamada a área central —, o furacão Milton chegou à Flórida por volta das 20h30 desta quarta-feira (21h30 em Brasília) como uma tempestade de categoria 3 (na escala Saffir-Simpson, que vai até 5).
O fenômeno foi precedido pela passagem de 19 tornados, que destelharam casas. Duas semanas depois da passagem do furacão Helene, que matou 235 pessoas no estado, Milton levou medo, provocou inundações e forçou a fuga de dezenas de milhares de moradores. A emissora de televisão WPTV reportou que "várias pessoas morreram" em um clube espanhol no condado de St. Lucie, depois de o local ser atingido por um tornado. No fim da noite, Milton caiu para categoria 2.
O presidente dos EUA, Joe Biden, advertiu que Milton poderia ser "a pior tempestade em um século". Ao se aproximar da costa, o fenômeno climático dobrou de tamanho, apesar de ter reduzido a velocidade de deslocamento, caindo de um furacão de categoria 4 para 3. Um drone do Laboratório Meteorológico e Oceanográfico do Atlântico da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) filmou uma onda de 8m de altura a 74km do olho do furacão.
Às 19h50 (hora de Brasília), um raro alerta de ventos extremos foi emitido para a região de Tampa Bay. A cerca de uma hora do impacto direto de Milton, Sarasota, uma joia do oeste da Flórida, era atingida por ventos de 123km/h. Com 57 mil habitantes, a cidade se debruça sobre uma baía conectada ao Golfo do México. Esperava-se uma elevação de 4,5m na maré. Durante a tarde de terça-feira (8/10), os ventos com força de tempestade tropical se espalhavam a até 168km do olho do furacão. Nesta quarta, eles podiam ser sentidos em até 405km do centro. Uma nova tempestade que se formava no Atlântico, batizada de Nadine, era monitorada pelo Centro Nacional de Furacões (NHC) dos Estados Unidos.
Um estudo publicado nesta quarta-feira comprovou que as chuvas e ventos do Helene foram 10% mais intensos devido às mudanças climáticas. A pesquisa advertiu que furacões destrutivos, como o Helene, que ocorriam a cada 130 anos, agora poderão ser registrados a cada 53 anos, em média. Os cientistas atribuem a modificação de frequência aos combustíveis fósseis, que tornaram a formação de furacões intensos 2,5 vezes mais provável na região sul dos EUA. "Todos os aspectos deste fenômeno foram intensificados pela mudança climática", explicou Ben Clarke, coautor do estudo e pesquisador do Imperial College London. "Veremos mais do mesmo se o planeta continuar aquecendo." Clarke e colegas se debruçaram na análise das chuvas, dos ventos e das temperaturas da água do Golfo do México, durante a passagem do Helene.
"Assustador"
Bella Pozo, moradora de Tampa e funcionária de um parque de diversões, ainda tentava superar o trauma da passagem do Helene, enquanto enfrentava a chegada de Milton. "É assustador escutar o barulho das chuvas torrenciais e a ventania assobiando contra minha casa. Vejo árvores caindo", contou ao Correio, às 20h20 (hora local). "Estou em uma sala escura, com duas pequenas janelas", acrescentou.
Segundo Bella, a família foi atingida em cheio pelo Helene. "Com as enchentes, perdemos tudo. No intervalo de 10 dias entre Helene e Milton, esvaziamos nossa casa e salvamos objetos de valor, como álbuns, documentos e relíquias. Encontramos outra casa para alugar por um ano e, agora, somos atingidos por outro furacão. É devastador o quanto ruim essas tempestades têm se tornado", desabafou.
Bella tentou se antecipar à nova catástrofe. Estacionou o carro na frente da maior janela da casa, providenciou lanternas e uma churrasqueira a carvão. "Também enchi o tanque do carro e guardei importantes documentos em embalagens plásticas, dentro de uma mochila. Estoquei comida e água em cada garrafa ou recipiente que encontrei", disse. Ela não descartava passar a noite no banheiro da casa. "O ambiente não tem janelas, para o caso de o telhado ser sugado. Se alguma janela se quebrar, o teto cairá, com a mudança da pressão do ar", explicou.
Christephany Agostino, nascida em Minas Gerais, mora em Port Saint Lucie (sudeste). Em 2017, enfrentou outro grande furacão, o Irma. "Milton se superou, por causa de sua densidade, por seu tamanho e força. Enquanto estava no Golfo do México, subiu rapidamente da categoria 4 para a 5. Ele se dirigia rumo ao norte e, de repente, virou para o sul, mudou de rota de uma hora para outra", relatou.
Às 14h40 (15h40 em Brasília), enquanto falava ao Correio, Agostina reportava a passagem de um tornado do lado de sua casa. A brasileira reforçou as janelas de sua casa com protetores de metal e se abasteceu com comida enlatada. "Nós temos um gerador de energia e colocamos todos os nossos pertences, latas de lixo, enfeites e vasos de plantas para dentro da garagem. A camionete foi estacionada atravessada, para que não haja risco de ela voar." Após a chegada de Milton, ela relatou um fenômeno curioso. "Neste exato momento, o clima está parado, sem vento. Há 20 minutos, o céu estava lindo, azul e laranja. Mas, é a história: depois da calmaria, vem a tempestade."
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