domingo, 5 de maio de 2013

Campos divide eleitorado do Nordeste com Dilma

05/05/2013


Por Nonato Guedes

A campanha eleitoral de 2014 tende a rachar o eleitorado do Nordeste, uma região que cresce mais do que o Brasil embora conviva com a estiagem. O Nordeste tende a ser decisivo na disputa, e o racha é previsível diante de um embate entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Um levantamento realizado pela revista “Época” mostra que, inicialmente, que o Nordeste está devastado pela seca, tanto assim que mais de mil municípios já declararam estado de calamidade pública e 20 milhões de pessoas sofrem com a escassez de chuvas. O Nordeste está dividido também entre a morte do gado e o Bolsa Família. Entre Dilma e Eduardo.

A constatação sobre crescimento da região decorre dos vultosos investimentos públicos e privados da última década. A combinação entre pujança econômica e implantação dos programas sociais gerou uma verdadeira aversão a candidatos de fora do campo político que governa a região, conforme a matéria de “Época”. De 1989 a 2002, a distribuição de votos para presidente repetia no Nordeste a divisão nacional, com variações sempre abaixo de seis pontos percentuais. Em 2006, isso mudou. O Nordeste passou a pesar mais em favor dos candidatos do PT e tornou-se decisivo no pleito. Em 2010, Dilma Rousseff venceu por 70% a 29% na região. Em diversas cidades do sertão nordestino, é praticamente impossível encontrar famílias que não sejam beneficiadas pelo Bolsa Família. A renda da cidade ou é ligada à prefeitura ou a aposentadorias ou ao Bolsa Família, já que muitos municípios não possuem indústrias.

O economista Cícero Péricles, da Universidade de Alagoas, acha que há uma capilaridade impressionante decorrente de programas como o Bolsa Família e as pensões da Previdência, e acrescenta que os projetos sociais impactam nos votos. As transferências federais para Estados e municípios do Nordeste também se elevaram. O Fundo de Participação dos Municípios e o Fundo de Participação dos Estados mais que dobraram durante o governo Lula na região. O número de transferências voluntárias de recursos também cresceu, com aliados políticos do governo Lula infiltrados na região, que passou, ainda, a atrair investimentos em infraestrutura com obras do Programa de Aceleração do Crescimento, PAC. Entre 2005 e 2010, o crescimento anual médio do PIB do Nordeste foi de 5,3% contra 4,7% no país.

Nenhum Estado se beneficiou tanto quanto Pernambuco. Em 2003, o PIB estadual era de R$ 39 bilhões. Em 2006, quando Campos assumiu, já atingia R$ 55 bilhões. Em 2010, ano em que a economia pernambucana cresceu 9%, atingiu R$ 95 bilhões. O nível de repasses de Brasília para Pernambuco cresceu 160% entre 2004 e 2012. Houve investimentos em todas as áreas, como siderúrgica, automóveis, estaleiros, muito mais expressivos do que ocorreu em Salvador nos tempos de Antônio Carlos Magalhães, o Rei da Bahia, como era chamado. Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes, é o governador mais bem avaliado do país, com aprovação de quase 90%. Ele pode se gabar ainda da redução dos índices de criminalidade e dos investimentos no complexo industrial de Suape. O Portal da Transparência do Estado, que expõe as contas públicas, é considerado pela ONG Transparência Brasil o segundo melhor entre os demais Estados brasileiros. A presidente Dilma, providencialmente, aumentou suas viagens ao Nordeste no primeiro trimestre de 2013. Nove das 16 incursões que fez pelo Brasil foram para a região, dona de 27% do eleitorado nacional de 38 milhões de votantes.

Eduardo Campos tem se mantido na ofensiva, com críticas à política econômica do governo Dilma, enquanto promove articulações políticas para reforçar o bloco de apoio à sua virtual candidatura. Sua agremiação cresceu no Nordeste e já ocupa mais espaços que o próprio PT. Governa quatro Estados: Pernambuco, Ceará, Piauí e Paraíba. No ano passado, o PSB derrotou o PT em duas das três maiores cidades nordestinas – Recife e Fortaleza. Os candidatos a prefeito petistas perderam em sete das nove capitais. “O Nordeste deu as eleições de 2010 a Dilma e pode tirá-las desta vez”, avalia o deputado federal Márcio França, do PSB-SP, articulador da candidatura socialista. O grande desafio de Campos, como aliado histórico de Lula, é se colocar como alternativa na eleição presidencial à disputa entre PT e PSDB, uma terceira via. Segundo a reportagem, ele terá de convencer que é capaz de manter o que os governos petistas criaram e fazer mais. Esta é a avaliação, por exemplo, do cientista político Túlio Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco. Já o economista Cícero Péricles arremata: “Campos não é um líder nordestino, mas pernambucano. Isso gera uma simpatia no Nordeste, mas não quer dizer que automaticamente quem votou nos irmãos Gomes (Cid e Ciro, do Ceará) o acompanhe. Ciro já declarou que sua candidata é Dilma Rousseff”.

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