19.09.2023
A novidade é que, na prática, o Brasil vai pular uma estação. Os últimos dias do inverno serão marcados por um calor tórrido, de 40°C, típico do alto verão – e não da primavera, com suas tardes frescas, como seria o normal. Nesta semana, em especial, todas as regiões do país batem recordes históricos de temperatura máxima. Daqui para a frente, os dias devem ser cada vez mais quentes, mas o pico do calor é esperado para o próximo fim de semana. Os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul atingem máximas ainda mais altas que o resto do país e podem chegar às marcas de 43ºC e 45ºC. A primavera começa sábado, 23.
Ventos e chuvas provocados pelo Ciclone Extratropical, como o que arrasou cidades do Rio Grande do Sul, no início de setembro; e calor intenso, como o desta semana, são consequências do aquecimento das águas do Oceano Pacífico, mais especificamente na região próxima ao Peru. Essa elevação de temperatura resulta no enfraquecimento de ventos que sopram de leste para oeste, gerando um calor fora do normal. O aquecimento do Pacífico é um fenômeno natural, que acontece de dois a sete anos, batizado de El Niño. Neste ano ele começou a se formar em junho. Um mês depois, as temperaturas médias do planeta se elevaram 1,5°C acima da era pré-industrial, segundo o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicius da União Europeia. O fenômeno está ganhando força e deve atingir o seu ponto alto no fim do ano, estendendo-se até março, segundo os meteorologistas.
“O El Niño deve trazer mais chuvas para o sul do Brasil. Há uma correlação direta de primavera e verão mais chuvosos nos anos de formação deste fenômeno, assim como extremos de calor”, diz Estael Sias, meteorologista da Metsul. Vale lembrar que o clima do país está interligado. Centro-Oeste, interior do Sudeste e parte do Norte chegam ao final de uma época de muitos meses meses seguidos com escassez de chuva e solo seco. Já é normal o registro de temperaturas mais altas, mas com essa massa de ar quente que chegou do oceano, a condição de pouca umidade na atmosfera faz com que o calor seja ainda maior.
Então teremos daqui para frente apenas ondas de calor? “Não é bem assim. O verão, principalmente no Sudeste, é chuvoso e tem dias nublados, o que diminuiu muito a sensação de calor”, explica Estael. Em outras palavras, esse pico de calor no fim do inverno acontece devido ao prolongamento da estação seca, como já aconteceu em 2020, e não apenas por causa do El Niño. Agora há uma imensa massa de ar seco predominando no Brasil, no Paraguai e na Bolívia, formando uma espécie de parede, que impede o avanço das frentes frias. Por isso elas, ficam retidas no sul do país que é o local de origem delas.
A pervisão é de retorno de chuvas fortes no Rio Grande do Sul, na quinta-feira, quando há outra frente fria se formando na região. Segundo informações do Metsul, a circulação de ventos levou à formação de nuvens carregadas sobre a fronteira Oeste – onde há riscos de temporais –, a Campanha e o sul do estado. As chuvas preocupam as autoridades, que ainda estão contando as vítimas provocadas pelo último ciclone. Atualizado na sexta-feira, 15, o balanço da Defesa Civil é de 48 mortos na região.
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