domingo, 13 de setembro de 2015

Fantástico acompanha travessia de refugiados da Hungria até a Alemanha

13/09/2015


Uma jornada humana em busca de um recomeço. Uma travessia de mais de três mil quilômetros por uma vida nova. Eles não sabem o que vão encontrar, não sabem como vão ser recebidos, mas seguem em frente. O Fantástico acompanha a marcha dessa multidão de refugiados.


Reem e Marrid são tios de Mariam, de 6 anos, e de Mohamed, de 2. Eles acabam de completar a primeira etapa de uma viagem longa e exaustiva. Eles são sírios e querem ir de Budapeste, capital da Hungria, até a Alemanha. Antes a família precisa atravessar a fronteira da Áustria, a 180 quilômetros.

“Queremos chegar na Alemanha porque lá nós teremos direitos, seremos bem-vindos”, diz.

Eles são quatro dos mais de 350 mil refugiados que já entraram este ano na Europa, na maior crise humanitária dos nossos tempos, algo que não se via desde a Segunda Guerra Mundial. A maioria foge da guerra na Síria. O pouco dinheiro é gasto com sapatos novos para continuar a enfrentar a caminhada.

Mahmud trabalhava como eletricista em Damasco, capital da Síria. Perdeu a perna em uma explosão. As pessoas assistem à passagem dos refugiados e a solidariedade é uma companheira na viagem: “Posso dar carona para eles? Eu posso ajudar com prazer”, diz um homem.

E uma procissão que parece infinita logo toma a estrada, de mochilas nas costas e crianças nos ombros.

Um casal entrega frutas para Reem. Comovida ao ver as crianças pequenas, uma mulher oferece carona à família. “Esse é o meu povo. Eu vou caminhar como eles. Está tudo ok. O que acontecer com eles, vai acontecer comigo. Existem muitas outras crianças. As minhas não são melhores do que as outras”, afirma Marrid.

“Durante a guerra no Iraque, mais de quatro milhões de iraquianos foram para a Síria. A gente abrigou eles nas nossas casas. Não tratamos eles como refugiados, tratamos como irmãos. Em 2011, a guerra foi na Síria. Nós perdemos nossas escolas, nossos empregos, nossa identidade”, diz um dos refugiados.

Muitos húngaros organizaram pontos de apoio na estrada, distribuindo água para os refugiados. “Eu normalmente não sou o tipo de pessoa que ajuda os outros. É a primeira vez que faço isso. Se disserem que essas pessoas estão entrando na Europa só para conseguir trabalho, é mentira”, diz um húngaro.
Cada passo deixa os refugiados mais próximos da promessa de uma vida melhor, mesmo que seja com os sapatos errados. “Eu dei meus sapatos para a minha mulher, porque os pés dela estavam sangrando”.

A noite chega e os refugiados continuam a jornada. Mas, depois de 11 horas de caminhada, eles precisam de descanso. “Não sinto mais as minhas pernas. Preciso parar”.

Voluntários aparecem para ajudar e quando eles finalmente se deitam para descansar, começa a chover.

Mas a noite também traz notícias animadoras: o governo da Hungria, por pressão internacional, está enviando ônibus para levar os refugiados até a fronteira. Logo a alegria dá lugar ao medo de que o destino da carona seja, na verdade, um campo de refugiados.

Os refugiados combinam que vão deixar um primeiro ônibus partir e, se receberem a confirmação de que ele alcançou a fronteira, vão embarcar nos outros. O primeiro grupo manda notícias pelo rádio da polícia: “Chegamos à fronteira. Eu chequei no GPS. É 100% certo”.

Ninguém esconde a alegria e a família de Marrid decide embarcar. Ainda vai levar três horas até a Áustria, mas agora, eles podem, pelo menos, dormir. Ao amanhecer, eles já estão na fronteira. “Agora a gente vai continuar caminhando”.

Uma base de ajuda humanitária que foi montada já abriga 4 mil pessoas, e muito mais gente ainda está por vir.

De trem, os refugiados seguem para Viena, a capital da Áustria, em mais uma etapa da longa jornada até a Alemanha. Os alemães que estão na estação de trem recebem os refugiados com festa. Quem sabe aqui eles terão uma nova chance?

G1

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