07/08/2019
Liberação de emendas
A sessão
Aplausos e vaias
Rodrigo Maia
A Câmara dos Deputados aprovou em segundo turno na
noite desta terça-feira (6), por 370 votos a favor, 124 contra e uma abstenção,
o texto-base da proposta de reforma da Previdência. Por se tratar de uma
proposta de emenda à Constituição (PEC), eram necessários ao menos 308 votos
favoráveis.
A
sessão durou cinco horas e meia. O texto-base aprovado nesta terça é igual
ao aprovado no primeiro turno, em 10 de julho, quando
379 deputados votaram a favor e 131 contra.
·
Ponto a ponto: saiba o que o texto prevê
Para
concluir a votação em segundo turno e encaminhar o texto ao Senado, porém, os deputados ainda precisam nesta
analisar os oito destaques apresentados pelos partidos para
tentar retirar pontos específicos da proposta.
Para
isso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), marcou sessão para as 9h
desta quarta-feira (7), com início da ordem do dia às 11h. Em entrevista, disse
avaliar que não haverá "surpresas", ou seja, que os destaques deverão
ser rejeitados.
Questionado
sobre a queda no número de votos a favor da reforma na comparação com a votação
em primeiro turno (nove a menos), argumentou que há deputados fora de Brasília.
"Alguns
deputados estão chegando [de viagem] amanhã cedo. Dois do PL, um do PP, dois do
MDB. Pelo menos mais cinco votos chegando amanhã. Então, a nossa projeção é
essa. Eu acho que um ou dois podem ter virado voto. É normal que você, em uma
votação dessa, possa ter um ou dois votos de perda", disse.
Ele afirmou ainda que decidiu deixar a análise dos destaques para a
sessão desta quarta-feira porque alguns deputados estavam cansados e também
para não sobrecarregar os trabalhos nesta terça e atrasar a votação nesta
quarta. Ele pretende concluir a votação em segundo turno até as 22h.
Considerada uma das principais apostas da equipe econômica para
recuperar as contas públicas, a proposta de reforma da Previdência estabelece,
entre outros pontos:
·
idade mínima para os trabalhadores se
aposentarem: 65 anos para homens e 62 anos para mulheres;
·
regras de transição para quem já está
no mercado de trabalho.
Obstrução
A sessão para votar o texto-base foi aberta no início da noite.
Durante toda a sessão, parlamentares de oposição apresentaram
requerimentos para tentar adiar a votação. Deputados favoráveis à
reforma, contudo, conseguiram derrubar os requerimentos.
Um requerimento de retirada de pauta, por exemplo, foi rejeitado por 306
votos a 18. Pedidos de adiamento de discussão foram considerados prejudicados e
sequer chegaram a ser votados.
Um requerimento de encerramento de discussão, proposto pelo PSL, do
presidente Jair Bolsonaro, foi aprovado por 353 votos a 10. Com isso, os
deputados puderam iniciar o processo de votação do texto-base.
Liberação de emendas
Apesar de a reforma ter sido aprovada no primeiro turno com
diferença de quase 250 votos (379 a 131), o governo precisou
negociar com deputados a aprovação da reforma em segundo
turno.
A edição extra do "Diário Oficial da União" publicada
nesta terça-feira (6), por exemplo, registrou o envio pelo Palácio do Planalto
ao Congresso de um projeto de lei que destina cerca de R$ 3 bilhões para vários
ministérios.
De acordo
com o blog do Valdo Cruz, desse total, R$ 2 bilhões serão utilizados para o
pagamento de emendas parlamentares.
A publicação
no "Diário Oficial da União" se deu horas antes do início da votação
em segundo turno da reforma da Previdência Social no plenário da Câmara.
A sessão
A liberação de emendas foi alvo de críticas por parte de
parlamentares da oposição durante a votação nesta terça-feira.
O deputado
Ivan Valente (PSOL-SP) disse que o início da sessão desta terça atrasou porque
deputados pró-reforma estavam aguardando a liberação de recursos.
“Demorou um
tempo para ela [a sessão] começar porque estavam completando o serviço. Qual
serviço? Liberar as emendas, R$ 40 milhões para cada deputado que vota com a
reforma da Previdência e contra o povo brasileiro”, protestou Valente.
Marcelo Nilo
(PSB-BA) chamou o envio do projeto para pagamento de emendas de
“toma-lá-dá-cá vergonhoso” e classificou a reforma como “perversa”.
Deputados a
favor da reforma negaram estarem pressionando por recursos de emendas
parlamentares. Eles também criticaram a obstrução feita por oposicionistas.
“A oposição
está obstruindo, e obstruir significa não trabalhar para que Brasil possa
avançar. Nós vamos, queira a oposição ou não, votar a reforma, a nova
Previdência, para que o país volte a crescer e para que façamos com que ele
volte a gerar emprego e oportunidade de vida ao povo brasileiro”, afirmou Darci
de Matos (PSD-SC).
Durante a
sessão, deputados favoráveis às mudanças nas regras previdenciárias lembraram
que, após a análise da reforma, a Câmara deverá se debruçar sobre outras
propostas prioritárias no plano econômico, como a da aposentadoria de
servidores estaduais e municipais – a ser enviada pelo Senado – e a reforma
tributária.
“A reforma da Previdência é o começo, é princípio do resgate do
crescimento econômico. Na sucessão esta Casa tem a absoluta responsabilidade de
votar, como de fato tem votado, a reforma tributária, na sequência à revisão do
pacto federativo”, afirmou Marcelo Freitas (PSL-MG).
Henrique
Fontana (PT-RS) criticou a reforma da Previdência e disse que a proposta não
atinge aqueles que “estão no andar de cima”. Para o petista, o Congresso
deveria analisar propostas para taxar grandes fortunas e lucros e dividendos.
O deputado
Pedro Paulo (DEM-RJ) exaltou a condução da votação da reforma feita por Rodrigo
Maia e acrescentou que a proposta chegou ao Congresso “dura”, mas que sairá da
Câmara “justa”.
Aplausos e vaias
Líder da minoria na Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ) foi
aplaudida por oposicionistas e vaiada por governistas ao lembrar durante a
sessão a recente polêmica entre
o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.
No início da
semana passada, sem ser questionado a respeito, Bolsonaro disse que um
dia contaria a Felipe como morreu seu pai – Fernando Santa
Cruz, um militante de oposição à ditadura militar; e que o presidente da OAB
não iria querer saber a verdade. A declaração gerou diversas reações
contrárias.
"Por
último, [o presidente] faz com ferro em brasa um aumento de feridas muito
profundas que existem na história desse país, da democracia brasileira, ferindo
a honra a memória de nossos desaparecidos políticos da ditadura, atacando a
família, a memória de Fernando Santa Cruz a quem eu peço aqui uma saudação
deste plenário. Porque nós não podemos admitir que a democracia brasileira e a
sua memória dos verdadeiros lutadores pela liberdade seja ferida por alguém que
nunca teve convivência com os pilares dessa democracia, com pilares da
democracia brasileira. A nossa homenagem a todos os mortos, desaparecidos
políticos da ditadura militar", disse a Jandira.
Rodrigo Maia
Apesar de ter sido elogiado por vários deputados pró-reforma, Rodrigo
Maia não escapou de críticas de parlamentares da oposição.
A deputada
Érika Kokay (PT-DF), por exemplo, disse que Maia às vezes atua como líder do
governo e não como presidente da Câmara.
Maia rebateu
e disse ser presidente da Câmara “com muito orgulho”, recebendo aplausos de
apoiadores.
Em
entrevista após a votação, Maia foi questionado sobre a liberação de emendas
pelo governo. Disse, então, não achar que tenha sido "fundamental".
"Claro
que, se você pegar um município que está com o pagamento atrasado de um médico,
e que o médico não está indo ao posto de saúde ou ao hospital, é importante, e
talvez seja urgente. Mas acredito que, mais do que isso, foi [fundamental] a
certeza de que a reforma, no futuro, vai garantir uma organização das contas públicas
e nós vamos deixar de ter esses problemas, em que hoje estados e municípios já
não têm mais condições de pagar os salários, muito menos aposentadorias e
pensões”, afirmou o deputado.
Sobre as
recentes declarações polêmicas de Jair Bolsonaro – entre as quais as críticas a
governadores do Nordeste – Maia disse que as falas do presidente fazem parte do
"conflito político" e não dizem respeito à "relação com o
parlamento".
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