O presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), disse nesta quarta-feira (31) que o resultado do impeachment, que decidiu pela perda do mandato de Dilma Rousseff, mas manteve os direitos dela de ocupar cargos públicos, gerou mal-estar na base aliada de Michel Temer.
Ele criticou os votos “ambíguos” de senadores do PMDB, partido do presidente recém-empossado. Segundo Agripino, os peemedebistas pagaram o “dízimo” ao governo petista, o que deixou com que o Senado fizesse um “papelão” ao “dar uma pena pela metade”.
No total, 16 senadores que se posicionaram a favor do afastamento definitivo da petistarejeitaram que ela ficasse impedida de disputar cargos eletivos, em uma segunda votação.
Entre os senadores com votos contraditórios, estão integrantes da cúpula do PMDB. Oito votaram para destituir Dilma da Presidência, mas rejeitaram inabilitá-la a exercer cargos públicos. Outros dois se abstiveram na segunda votação.
“Esses que não votaram foram produto de uma convivência de vários anos usufruindo de favores, com participação no governo, o que gerou uma espécie de reciprocidade. Na hora H, pagaram o dízimo da convivência”, afirmou Agripino.
Antigo rival de Temer dentro do PMDB, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), foi um dos que votaram pelo impeachment e depois recusaram a inabilitação da petista. Antes da segunda votação, ele chegou a fazer um duro discurso em que afirmou que os senadores não poderiam ser “desumanos”.
Segundo o colunista do G1 e da GloboNews Gerson Camarotti, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), aliada de Dilma, começou há cinco dias a articulação para conseguir manter a elegibilidade da ex-presidente. Ela consultou ex-ministros da petista e Renan, que teria apoiado a estratégia para fazer um gesto político a Dilma e manter uma aliança infomal com o PT. Líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP) teria entregado o cargo para Temer após a surpresa com a segunda votação, mas o presidente não aceitou e prometeu conversar com o tucano quando voltar da China.
'Cobra de duas cabeças'
Para Agripino, o episódio pode acabar estremecendo a base aliada. “O discurso de Renan é preciso ser interpretado com correção, a que é que ele se propôs com esse discurso e que nos deixou mal. Porque foi um posicionamento político ambíguo, uma cobra de duas cabeças."
"E, se o governo Temer insistir em manter um governo de cobra de duas cabeças, não vai ter unidade de pensamento e nem unidade da base de apoio permanentemente, como vai precisar para fazer as reformas”, afirmou Agripino.
Na avaliação dele, a articulação política do governo vai precisar “entrar em campo” para colocar panos quentes na situação. “Eles não têm alternativa. Eles entraram no jogo em que é preciso fazer reformas que exigem quórum qualificado e o PMDB vai ter que dar o exemplo do voto e isso vai mudar a confluência. Agora, o PMDB não pode repetir o episódio de hoje”, disse Agripino.
Na sua primeira reunião ministerial como presidente, Temer fez referência ao desconforto da base com o resultado da votação que manteve a elegibilidade de Dilma e afirmou que não aceitará divisão na base.
Eduardo Cunha
O presidente do DEM ressaltou ainda que o ocorrido no Senado poderá abrir um precedente naCâmara dos Deputados, que deve votar em breve o processo de cassação do deputado afastadoEduardo Cunha (PMDB-RJ).
O presidente do DEM contou que, assim que a votação terminou, houve uma reunião do partido com o PSDB e o sentimento era o mesmo.
Segundo ele, Temer chegou até a ligar para o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), para esclarecer que não havia tido nenhum tipo de orientação para os peemedebistas votarem a fazer da manutenção dos direitos de Dilma.
G1
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