30.11.2021
Nonato Guedes
Passada a batalha das prévias no PSDB nacional em que o governador de São Paulo, João Doria, foi ungido como candidato do partido à sucessão presidencial no próximo ano, derrotando o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, principal oponente, a expectativa no PSDB da Paraíba volta-se para a confirmação do nome do deputado federal Pedro Cunha Lima como candidato à sucessão do governador João Azevêdo (Cidadania). Ontem, o deputado federal Ruy Carneiro prognosticou que a definição da pré-candidatura de Pedro deve mesmo ganhar corpo em dezembro, condicionada a ajustes finais que precisarão ser feitos, envolvendo, até, prováveis composições que possam ser firmadas em torno dessa postulação.
O lançamento do deputado Pedro Cunha Lima, presidente estadual do PSDB e filho do ex-senador Cássio Cunha Lima, vai se tornando irreversível como uma das candidaturas de oposição no Estado, já que o deputado Ruy Carneiro admite a possibilidade de lançamento de até três candidaturas nesse segmento, sem, no entanto, mencionar nomes. A referência pode ser ao surgimento de um nome de centro-esquerda, dentro do bloco que o ex-governador Ricardo Coutinho comanda no Partido dos Trabalhadores, para cujas hostes voltou com o pleno apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a outro nome, egresso do bolsonarismo-raiz na Paraíba, que tenta viabilizar candidatura competitiva movendo-se no campo da direita e da centro-direita. A fragmentação no cenário estadual não preocupa o deputado Ruy Carneiro, que a considera ideal para possibilitar um segundo turno.
O martelo no ninho tucano só será batido, porém, com o anúncio formal da desistência do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), em concorrer ao governo do Estado. Pedro vinha colocando sua postulação em paralelo com a de Romero Rodrigues, dentro da estratégia de ampliar o leque de opções para o grupo oposicionista com raízes em Campina Grande, mas foi convencido pelo ex-senador Cássio Cunha Lima a fazer um movimento em prol da unidade, retirando a pretensão, o que se deu em evento online. Imaginava-se que a desistência anunciada por Pedro fosse a senha desejada por Romero para assumir de peito aberto a campanha à disputa majoritária estadual. Mas, diferentemente do que se pensou, Romero não avançou no projeto de construção da candidatura ao governo, deixando de cumprir, como prometera, programação de visitas a municípios do Estado para sondagens e articulação de apoios.
Em vez disso, o ex-prefeito Romero Rodrigues ficou inerte no processo que lhe caberia empalmar e seus aliados surpreenderam-se com versões insistentes na mídia local sobre alegado canal de diálogo entre o pessedista e o governador João Azevêdo, a quem os Cunha Lima combatem ferrenhamente em Campina Grande e no Estado. O governador João Azevêdo chegou a dar declarações admitindo conversar com Romero, dentro da agenda de contatos que se propõe a realizar para fortalecer sua candidatura à reeleição. E, nesse meio termo, tornaram-se constantes os rumores ou insinuações de que Romero pudesse vir a compor chapa junto com João Azevêdo, ocupando o papel de candidato a vice-governador, sem que tenha havido desmentido peremptório, quer por parte do ex-prefeito, quer da parte do atual governador. O imobilismo nos passos de Romero passou a ser interpretado como sinal de que ele não vai mesmo encarar candidatura própria ao governo, de modo que o “clã” Cunha Lima voltou-se para o nome de Pedro como alternativa.
Ruy Carneiro, que ficou entusiasmado com as prévias no PSDB, em nível nacional, avaliando que elas espelharam uma mudança no processo de escolha de candidatos no país, constituindo-se em inovação que tende a ser seguida por outras agremiações, não é insistente na adoção do modelo em nível estadual, parecendo resignado com a hipótese de sagração do nome de Pedro Cunha lima, que, como foi dito, já havia sido posto na mesa. “É um político jovem, sério, ético, com boa história e, no nosso entendimento, tem tudo para fazer um grande trabalho em qualquer função que está exercendo, pois já deu provas de mandato proativo na Câmara dos Deputados”, destacou o deputado Ruy Carneiro. Ele pugna para que o processo final de homologação de candidaturas, tanto a nível presidencial, quanto a nível de governo do Estado, seja marcado pela unidade, tida como ponto indispensável para a consistência de tais postulações.
Da parte do governador de São Paulo, João Doria, ele já sinaliza à cúpula nacional do PSDB movimentos para dar partida ao projeto de candidatura ao Palácio do Planalto, esforçando-se para evitar defecções no ninho tucano e, ao mesmo tempo, para agregar aliados que porventura não estejam dispostos a embarcar na polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Entre tucanos paraibanos, a esperança é de que uma candidatura própria como a do governador de São Paulo à presidência da República possa ter efeito colateral em alguns Estados onde haverá candidatos próprios a governos. Para o deputado Pedro Cunha Lima, assumir a candidatura ao Executivo com tão pouco tempo de militância política é um grande desafio. Dependendo das condições de temperatura e pressão, esse ineditismo poderá levá-lo a dois extremos: ou ao crescimento, tornando-se competitivo na campanha, ou a um desastre eleitoral sem precedentes na história política da Paraíba nos últimos anos.
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