10.03.2023
Depois de um ano com desempenho econômico positivo – pelo menos em relação aos pares emergentes – o Brasil inicia 2023 com diversos desafios nesta área. Desaceleração da economia, juros restritivos, inflação e equilíbrio fiscal são alguns exemplos.
Em relatório, o Bank of Americana (BofA), afirma que mesmo os potenciais ganhos com uma reabertura da China ainda depende das definições fiscais que o novo governo irá definir nos próximos meses.
“O novo governo terá que fazer malabarismos com demandas por gastos maiores, nenhuma expectativa de privatizações e foco na definição de uma nova regra fiscal, aliada à eventual aprovação de uma tão esperada reforma tributária”, diz relatório do BofA.
De um lado, o banco vê a possibilidade de desaceleração da inflação de produtos importados e serviço. Entretanto, na outra ponta o relatório afirma que a retomada dos impostos sobre combustíveis e a própria expectativa de aumento da inflação podem prejudicar essa desaceleração.
1. O enigma fiscal continuará em 2023?
Resposta: Sim.
“O fiscal tem sido motivo de preocupação e foco no Brasil nos últimos anos”, diz o relatório. Após dois anos de resultados positivos, com superávits primários e redução da dívida bruta do governo, os analistas do banco norte-americano veem as contas públicas se deteriorando neste ano. Segundo eles, a melhora dos números foi “amplamente sustentada” por receitas não recorrentes (principalmente as relacionadas ao petróleo, como dividendos da Petrobras e royalties).
Entretanto, as medidas de estímulo fiscal não foram particularmente baixas e somaram mais de R$ 500 bilhões somando 2021 e 2022. “Espera-se que algumas dessas medidas de estímulo continuem adiante.”
Os analistas apontam que as medidas de ajustes apresentadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se concentram em receitas pontuais, com poucos ganhos vindos de cortes de custos, e nenhuma medida de longo prazo. A expectativa é pela reforma tributária.
2. Inflação volta à meta em 2023?
Resposta: Improvável
“No geral, a inflação em 2022 surpreendeu os analistas para baixo, ante as expectativas do início do ano. No entanto, os preços administrados [impostos sobre combustíveis e taxas de energia] foram os únicos responsáveis pela desaceleração anual” afirmam os analistas do BofA.
Segundo eles, os riscos estão inclinados para cima neste ano e a convergência deve ser esperada a partir de 2024. A expectativa é de que haja desaceleração da inflação de serviços e alimentação (ajudada por preços de commodities praticamente estáveis), enquanto os preços administrados devem voltar a subir, impulsionados principalmente pelo aumento das tarifas de energia.
“Em relação a 2023, projetamos inflação em 4,8% ao final do ano, menor do que em 2022, quase no teto da meta (de 4,75%).”
3. O Brasil enfrentará uma recessão?
Resposta: Não
O banco norte-americano espera que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) desacelere, mas ainda registre avanço: +0,9% (de 3,25% de crescimento esperado em 2022).
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“O consumo privado pode ser desafiado por um ambiente de crédito mais restritivo, com taxas de juro e spreads elevados, entre as famílias já altamente endividadas”, diz o relatório. Os analistas esperam que as condições de crédito melhorem no segundo semestre do ano, com o Banco Central iniciando o ciclo de corte de juros. “No entanto, um aumento real do salário mínimo e dos salários dos funcionários públicos acontecerá e tem potencial para impulsionar o consumo privado”, acrescentam.
4. A taxa Selic vai cair em 2023?
Resposta: Sim
Entretanto, possivelmente o corte será menor do que o esperado anteriormente, afirmam os analistas. “No entanto, a deterioração do cenário fiscal, traduzindo-se em demanda maior e desancoramento das expectativas de inflação, tornou os cortes antecipados da taxa Selic cada vez mais improváveis.”
Com isso, a expectativa do BofA é de atraso nos cortes da taxa, resultando em uma Selic de 11,75% ao fim de 2023, ante 10,50% esperado anteriormente. “Esperamos uma sequência de cortes de 50 pontos-base por reunião apenas a partir de agosto de 2023, pois esperamos que a inflação atinja o mínimo no início do segundo semestre.”
5. O real vai valorizar?
Resposta: Muito provável
“Embora as preocupações com as políticas públicas permaneçam latentes, as altas taxas de juros domésticas combinadas com as expectativas de reabertura da China podem beneficiar o real”, afirmam os analistas. Eles esperam que o dólar termine o ano avaliado em R$ 5,20 frente a R$ 5,28 no fim de 2022.
“Se o governo entregar uma nova regra fiscal confiável e uma boa proposta de reforma tributária no primeiro semestre, o real poderá novamente se superar este ano”, diz o relatório. Em 2022, a moeda superou a maioria das moedas dos outros países, tanto em termos de retorno à vista quanto o retorno total.
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